24 de janeiro de 2009

Blog - Pregos no Prato

"Já aqui falei do Prof. João Lobo Antunes a propósito do livro “O Eco Silencioso”. Desta vez falo do livro “Sinto Muito”, escrito pelo seu irmão, Nuno Lobo Antunes (Neuropediatra): a admitir um ponto de comparação, sempre ingrato para ambos, diria que a escrita deste autor é mais intimista e ao mesmo tempo menos cerebral que aquela do Prof. João Lobo Antunes.

Notam-se, ainda assim, traços de vida paralelos - influência assinalável da figura paternal, ambos “emigraram” para Nova Iorque e regressaram ao fim de alguns anos, e abordagem das mesmas questões, donde sobressai a preocupação com a progressiva funcionalização da medicina.

Fruto da sua especialidade clínica, os temas que Nuno Lobo Antunes trata são tudo menos agradáveis - crianças e doenças terminais são, por natureza, quase incompatíveis, mas o autor consegue sempre extrair destas terríveis histórias de vida e morte um ensinamento ou uma reflexão que permite ao leitor encarar a tragédia com outros olhos.

E depois, há pormenores deliciosos de humor subtil - como o daquele pediatra que acordado a meio da noite por uma Mãe histérica que lhe pergunta o que fazer ao seu filho, já que teria engolido um lagostim, responde ainda estremunhado - «Dê-lhe uma imperial, minha Senhora»." Aqui.

22 de janeiro de 2009

“Eu mudei”

"Hesitei muito tempo em contribuir para o que o meu irmão António cruamente designa de 'detritos sólidos', e não queria sacrificar árvores inocentes à prosa desavinda. Cedi, no entanto, que é difícil resistir aos pecados do mundo, e aos desejos da mãe". Assim justifica Nuno Lobo Antunes, especialista em neurologia pediátrica, a edição desta sua primeira obra. "Sinto Muito" foi o título dado, numa tentativa de mostrar o que lhe vai na alma depois da experiência com doentes oncológicos, no Columbia-Presbyterian Medical Center. Não é desculpa que quer pedir. Quer antes dizer como sentiu cada momento vivido com os pacientes e suas famílias. Quer terminar as conversas que não teve por pudor, ou porque a relação profissional não lhe permitiu. Nuno Lobo Antunes faz-nos entrar no quarto do paciente e, junto da cabeceira da cama, leva-nos a colocar a mão na cabeça de quem mais precisa. Mostra-nos como pode ser dura esta luta contra a doença. Mas também como é enorme a nossa força. "As pessoas, quando colocadas perante dramas pessoais, são capazes de se transcender e de se portar como heróis de carne e osso", disse em entrevista à GINGKO. "Qualquer médico com experiências semelhantes, nele se vai reconhecer, tal como quem quer que tenha estado do outro lado do espelho de Alice. Os leitores não terão dificuldade em confiar nesta nova voz-do-mestre", diz António Damásio no prefácio. E, de facto, assim parece. O livro, lançado pela Verso de Kapa, transformou-se num sucesso de vendas. Chegou ao Top da Fnac e da Bertrand e vai já na quinta edição. "É preciso afirmar aquilo em que se acredita (...) É preciso dizer que a paixão, mais que a razão, redime e nos torna santos. E, sem pudor dos afectos, confessar que sinto muito" (in Sinto Muito, Nuno Lobo Antunes). LEIA A ENTREVISTA A NUNO LOBO ANTUNES NA EDIÇÃO N.º 10 DA GINGKO

Blog - Palavras de Mentes

Crónica do olhar que anuncia a morte

"...que ser mulher, é apenas uma desculpa, sim, uma desculpa para ser mãe. O senhor não sabe, não conhece... Não, Doutor, não olhe assim para mim, não anuncie dores, mortes, imperfeições. Não finja saber o que de todo desconhece. Alguma vez sentiu, dentro de si, a vida que justifica a vida. Não, agora a sério... Doutor, que sabe o senhor da vida, se nunca, dentro de si, ela cresceu?"

Não transcrevi a crónica inteira, como era minha ideia inicial, mas aguço a vontade de ler esta e todas as outras comoventes histórias reais (infelizmente reais) de Nuno Lobo Antunes, em Sinto Muito.Aqui.

18 de janeiro de 2009

Blog - Viagra e Prozac

Sinto Muito, Nuno Lobo Antunes


Não gosto de livros que são a soma de crónicas. Não sou particularmente atraído pelas singularidades da medicina. E tenho uma relação complexa com as biografias. E chamem-me todos os nomes, mas não tenho paciência para ler Lobo Antunes. O outro. Porque a escrita de Nuno Lobo Antunes é deliciosa. Sem pretensiosismos, anima a língua portuguesa com combinações e cores diferentes, numa escrita nos arrebate e comove. Estou a meio e já sinto saudades...

Agora praticamente fora de contexto, uma breve nota para dizer que tenho os melhores pais do mundo. E devia dizê-lo muito mais vezes... Aqui.


17 de janeiro de 2009

Sessão de Autógrafos


...histórias da vida real, que relato de coração aberto...
«Sinto Muito» de Nuno Lobo Antunes
Bertrand - Av.Roma
Sábado, 17 Janeiro 2009, 16:30

O conhecido neuropediatra, Nuno Lobo Antunes, reuniu em livro as memórias de alguns dos momentos mais intensos da sua vida. Conhecido pelo trabalho que desenvolve junto a crianças, nomeadamente crianças vítimas de cancro, editou, pela Verso da Kapa, «Sinto Muito». A livraria Bertrand da AV. de Roma organiza uma sessão de autógrafos com o médico e escritor no próximo dia 17 de Janeiro, pelas 16h30.

Contamos consigo. Esperamos por si.

Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2009

"Há livros que nos marcam para a vida.."

Há livros que nos marcam para a vida, pelas mais diversas razões. Sinto Muito é um desses livros. Decerto não é um livro literáriamente extraordinário, mas sem dúvida que do ponto de vista humano é dos melhores que tive a oportunidade de ler. Ao lê-lo foi de todo impossível segurar algumas lágrimas que teimaram em cair. O livro é uma compilação de pequenos artigos que o autor escreveu e que mais não são do que memórias da sua prática enquanto médico. Poderia escrever muito sobre o que li, no entanto considero que a sinopse do livro diz tudo. Um agradecimento especial ao meu amorzito que sabendo que eu queria tanto lê-lo, me ofereceu o livro:) "Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.
Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito.
Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba. O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio." Aqui.


Domingo, 11 de Janeiro de 2009

O livro que “serviu para arrumar a dor”

“Sinto Muito” de Nuno Lobo Antunes no Casino Figueira


“Não faria sentido que eu morresse sem relatar aos outros as experiências que vivi. Com o relato destas histórias podia fazer com que as pessoas se sentissem melhor”, destacou Nuno Lobo Antunes durante a apresentação do seu livro “Sinto Muito”, realizada no Casino Figueira no passado dia 18 de Dezembro.
Este livro reúne várias histórias que o médico neuro-pediatra vivenciou aquando da sua estada em Nova Iorque no Columbia-Presbyterian Medical Center, um dos maiores hospitais oncológicos do mundo. O título do livro traz consigo uma ambiguidade. “Não era raro morrer alguém durante o turno da noite no hospital. Às três da manhã tinha de ligar a alguém a informar que tinha morrido um ente querido para essa pessoa”, contou o médico, salientando que do outro lado, quando atendiam o telefone dizia, “Sinto Muito. Desculpe. Mas eu partilho a sua dor”.
Neste livro é ainda feita uma descrição pormenorizada do quotidiano de um hospital, inserido numa metrópole como Nova Iorque. O autor fala “sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor”, refere António Damásio, no prefácio do livro.

Para onde vai a dor
Ser o transmissor das más notícias é uma difícil tarefa a que, diariamente, um médico está obrigado. E traz consigo algumas interrogações. “Interrogamo-nos pela razão da nossa existência. É a tentativa de uma resposta, ou o relato de respostas individuais sobre a morte”, destacou Nuno Lobo Antunes, dando, assim, a conhecer algumas das razões que o levaram a partilhar estas histórias com o público.
“Muitas vezes perguntava à Mary, a enfermeira que trabalhava comigo: «onde é que nós pomos a dor? Para onde é que ela vai?»”, confidenciou o autor. “Sinto Muito” trouxe essas respostas.
“De alguma maneira, e no meu caso, a minha dor foi para este livro. E neste momento, como digo no livro, sinto-me mais leve e mais livre”, destacou. Durante os vários anos que esteve em Nova Iorque, Nuno Lobo Antunes teve “o privilégio de conviver com crianças e adultos fantásticos”.
“Eram heróis que ninguém contava, e sentia-me na obrigação de as contar”, destacou.
“Olhar que anuncia a morte” é o título de uma das crónicas que fazem parte de “Sinto Muito”, escrita no “dia em que anunciei a uma mãe que o filho ia morrer”, contou.

Confissões/memórias
Nesta compilação de histórias, Nuno Lobo Antunes revela ser um homem de afectos e um profundo humanista. Fala, sem pudores, da dor, da perda, do amor e da cumplicidade que vai construindo com aqueles com quem se cruza no dia-a-dia. É sem reservas que o médico admite que muito do que é e do que sente está exposto neste livro.
“É um testemunho muito sentido e genuíno e que me continua a tocar sempre que o leio. São histórias da vida real, que relato de coração aberto e que falam do melhor que a Humanidade tem para oferecer, a coragem e o amor. Neste livro há um Nuno completo, o médico, o marido, o pai... Aliás, este livro é dedicado à minha mulher e tem referências expressas às minhas filhas”, referiu.
“Sinto Muito” é um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela. Aqui
Raquel Vieira - O Figueirense